domingo, 11 de novembro de 2012

Sala Repleta... Casa Deserta...


Um  ótimo texto!
Para Refletir.

Joana Abranches

            Uma das coisas que mais me incomoda no meio espírita, é de o trabalhador da casa espírita não se beneficiar dos benefícios e da assistência que a casa oferece as pessoas que vão à busca de auxilio.
            Dá a impressão que depois que você começa a fazer parte dos trabalhos e de qualquer atividade, torna-se proibida fazer tratamento e receber ajuda, é como se o espírita se tornasse imune às dificuldades, pelo contrario tem problemas como qualquer outra pessoa.
            E há quem diga que recebe trabalhando, olha a vivencia e a convivência com as realidades espirituais demonstram que não é assim. E tem que fazer tratamento sim! E parar com esta historia que se trata trabalhando.
            Dar atenção ao trabalhador como se da a quem chega pela primeira vez.
            Faz-se necessário desenvolver a fraternidade.

            O que teria isso a ver com o cotidiano dos grupos espíritas na atualidade?... Muita coisa!...
            Em Casas equivocadamente agigantadas, equipes trabalham por turno e mal se conhecem, pessoas viram números e o velho e essencial acolhimento que começaria “dentro de casa” acaba se perdendo em meio à distribuição de senhas para o passe e outras novidades em nome da organização.
            A preocupação é atender e impressionar bem aos que chegam, aos que vem de fora. Enquanto isso, no interior dos grupos, quanta gente sofrendo de solidão acompanhada... Minguando afetivamente!
            Importante avaliar como tem sido a nossa relação com os companheiros de dentro, no cotidiano institucional espírita.
            Conseguimos perceber seu olhar mais triste nesse ou naquele dia?
            Quando desaparecem por algum tempo, o nosso primeiro pensamento é de censura ou preocupação?
            Passa pela nossa cabeça que possam estar atravessando uma fase difícil e, em caso afirmativo, nos mobilizamos para ampará-los?
            Aos que retornam após um período de ausência, a manifestação tem sido de acolhimento e alegria ou de cobrança?
            Ah, as tais cobranças... Das piadinhas sarcásticas e olhares enviesados ao dedo em riste, vale tudo para manter o bom andamento das atividades, em nome de Jesus”... Porém, vale a pena pensar se tem sido oferecido afeto, compreensão e solidariedade na mesma medida em que se cobra.
            Favorecidos por regras monásticas (regimento e normas) que inibem a espontaneidade e a afetividade entre os trabalhadores, os grupos acabam resvalando para o extremismo.
            O silencio é uma prece... Antes, durante e depois das reuniões. Ignora-se que onde não há espaço para diálogo e autenticidade não pode haver uma relação saudável e verdadeira. Assim, vestindo a armadura do formalismo que afasta (em lugar da naturalidade que aproxima), temos nos tornado meros tarefeiros, cada vez mais robotizados e indiferentes.
            Sem perceber, em vez de estar uns com os outros temos apenas passado uns pelos outros, como se as pessoas fizessem parte dos móveis e utensílios da Casa Espírita.
            Muito comum entrar no grupo, assinar a lista de freqüência (uma espécie sutil de folha de ponto para espíritas) e ligar no automático. A preocupação em ser impecável sobrepõe-se então ao importar-se com. É que andamos muito ocupados em ser perfeitos. Mesmo que ser perfeito signifique apegar-se a detalhes ínfimos e apontar a imperfeição alheia para colocar em destaque a pretensa superioridade que ainda estamos longe de possuir...
            Quanta ilusão!
            Se o companheiro procura ajuda, lá vem o julgamento implacável implícito na “receitinha de bolo”: Prece, água fluidificada, redobrar a vigilância... Com direito, é claro, a sorrisinho paternalista e tapinha nas costas.
            Dali cada qual pro seu lado e a cômoda sensação de dever cumprido, sem que tenhamos, entretanto, caminhado um milímetro sequer em direção às reais necessidades do outro. Sem contar que, convenhamos, numa quase ditadura da pseudo-santidade como critério de “promoção” a trabalhador espírita, raros são os que têm coragem de expor suas dificuldades, por mais que estejam passando o pão que o diabo amassou.
            Afinal, reza a lenda que espírita não pode estar sujeito aos problemas existenciais inerentes aos “reles mortais”, como estresse, depressão, frustração amorosa ou coisa que o valha.
            Daí o receio de se abrir, pois mostrar alguma fragilidade pode significar perda de credibilidade e exclusão dos trabalhos, pode render o estigma indigesto de obsediado.
            Some-se a tudo isso o fato de que, embora espíritas, a maioria de nós tem vivido, na prática, como bons materialistas. Interagindo numa sociedade altamente competitiva, temos sido sutilmente seduzidos pelo supérfluo, em detrimento do essencial.
            O objetivo primordial da vida passou a ser o sucesso profissional, social e financeiro, que inclui produzir, consumir e ostentar (desde títulos acadêmicos e profissionais a bens materiais). Mas ser “bem sucedido” dá muito trabalho. Os inúmeros cursos, viagens e horas extras à noite, fins de semana e feriados, somados à necessidade exacerbada de ter, tomam-nos muito tempo. Então os compromissos espirituais deixam de ser prioridade. Vão sendo adiados ou assumidos pela metade, encaixados nas sobras de tempo que restam de tudo o que é material e “urgente.”
            Passa-se então a ir à Casa Espírita quando dá... Só pra bater o ponto... E de preferência “correndinho,” como quem dá um pulinho no supermercado mais próximo só pra suprir uma ou outra coisa que está em falta na despensa.
            Nem bem acabou o assim seja e as pessoas já saem feito foguete para levar ou buscar Fulaninho e Beltraninha não sei onde... Ou para compromissos que poderiam tranquilamente ser agendados em outra data.
            Ora, quanto mais superficial a convivência, mais frieza nas relações. Passamos então a nos esbarrar na Instituição, não como irmãos, mas como meros colegas de trabalho; a viver uma vida paralela fora do Grupo Espírita, com um circulo de relações à parte, onde dificilmente há lugar para os companheiros de ideal.
            Em que vão escuro do preciosismo doutrinário e do igrejismo teremos perdido a sensibilidade, o prazer de estar juntos, os laços de amizade que extrapolavam os muros da Casa Espírita? Em que lugar do tempo foram parar as gostosas confraternizações extras, reuniões... Os agradáveis bate-papos após as atividades... A amizade parceira que se estendia para os programas de lazer em comum... O olhar atento que detectava quando esse ou aquele amigo não estava bem... O interesse verdadeiro pelo bem-estar uns dos outros?... Talvez seja mais fácil culpar a correria e o medo da violência dos dias atuais - alegando que é perigoso chegar tarde em casa ou pretextando falta de tempo – do que responder honestamente a essas perguntas, mas uma coisa é inegável.
            Coragem é questão de fé, e tempo é questão de prioridade.
            E são tantos os irmãos que reclamam atenção especial... Companheiros solitários para os quais os fins de semana são intermináveis e que, se acolhidos, com certeza se sentiriam muito melhor!...
            Companheiros em processos reencarnatórios difíceis ou em períodos de crise existencial, para os quais faria toda a diferença uma conversa amorosa, a presença amiga naquele momento crucial ou a festinha surpresa de aniversário. Celebrar gente é trabalhar a autoestima individual e coletiva. Quando as pessoas se sentem valorizadas, quando são envolvidas em ambiente de carinho, alegria e leveza, todo o grupo se torna mais harmônico, feliz e produtivo.
            Espíritas, amai-vos e instruí-vos!” - Recomendou o Espírito de Verdade.
            A construção da frase sinaliza, clara e pedagogicamente, para a ação prioritária.
            Teoria já temos de sobra. Agora é aplicá-la no cotidiano das relações. É avaliar com honestidade até que ponto ser impecável, indispensável e PHD em Espiritismo, tem sido mais importante do que ser irmão.
            Reconhecereis os meus discípulos por muito se amarem” – afirmou Jesus.
            Neste momento é imperioso resgatar a nossa identidade de seguidores sinceros do Mestre, buscando interagir com sinceridade e companheirismo. Como distribuir aos que chegam o afeto, o aconchego e a tolerância que sequer conseguimos construir entre nós, companheiros de caminhada e de ideal?
            Repensemos. Continuar a brincar de ser fraternos, alimentando a distância entre o discurso e a prática da legítima fraternidade, é um enorme desserviço à nossa própria evolução e felicidade. O mundo espiritual tem nos alertado que das boas intenções de teóricos e indiferentes espíritos-espíritas o umbral já está cheio... E os hospitais das colônias espirituais também!.. Muito embora - pra sorte nossa - em casos de extrema pobreza e vulnerabilidade espiritual a Misericórdia Divina nunca negue licença pra mais um puxadinho.
Joana Abranches - Assistente Social, escritora e presidente da Sociedade Espírita Amor Fraterno - Vitória – ES

Robson Pinheiro - Corpo Fechado [Link atualizado nov. 2013]

Corpo Fechado



Sinopse                                                               

Vidas que se cruzam, perdidas em diferentes objetivos. O universo dos pretos-velhos, da sabedoria das ervas e das energias sutis da natureza. Mentes abertas, corpos fechados. Chagas abertas, Sagrado Coração, todo amor e bondade. O sangue do meu Senhor Jesus Cristo no corpo...